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Leão XIV e o futuro da Igreja

12 de Maio de 2025

Roberto de Mattei

Roberto de Mattei

Leão XIV e o futuro da Igreja

O fumo branco subiu surpreendentemente da chaminé da Capela Sistina às 18h08 de quinta-feira, 8 de Maio, enquanto as luzes do crepúsculo iluminavam a colunata de Bernini. Uma hora depois, a Praça de S. Pedro e a Via della Conciliazione estavam repletas com mais de cem mil pessoas, enquanto quase mil milhões assistiam pelos meios de comunicação social. A multidão, como já tinha acontecido em 1978 com o Papa Wojtila, não compreendeu imediatamente o nome do novo Pontífice, anunciado pelo Cardeal Dominique Mamberti. No entanto, o aplauso foi longo e estrondoso. A praça aclamou o 267º sucessor de São Pedro, o Cardeal Robert Francis Prevost, que adoptou o nome de Leão XIV.

A primeira impressão é a mais importante, porque é intuitiva e fica gravada na memória. Por isso, num artigo anterior, quando perguntámos quais seriam as primeiras palavras que o novo Papa pronunciaria da loggia da Basílica de São Pedro, escrevemos: «Certamente, as palavras e os gestos com que o futuro Papa inaugurará o pontificado já revelarão uma tendência, oferecendo um primeiro elemento de discernimento ao sensus fidei do povo católico. Qualquer que seja o seu nome, será que o Pontífice eleito pelo Colégio dos Cardeais vai querer colocar-se na esteira de Francisco ou em descontinuidade com o seu pontificado que, segundo muitos, constituiu uma catástrofe para a Igreja?».

Tivemos uma resposta e ela foi dada num sinal de descontinuidade, pelo menos em relação àquele estilo de governo que mais marcou o pontificado de Francisco. A escolha do nome foi bem exigente e já indica uma tendência ao evocar um papa com vasto magistério doutrinário, como Leão XIII, mas também papas santos e combatentes, como São Leão Magno e São Leão IX. Igualmente significativa foi a forma como o novo Papa se apresentou ao povo de Roma. A sobriedade de Leão XIV foi acompanhada pelo reconhecimento da dignidade da Igreja à qual prestou homenagem usando as vestes solenes: a mozzetta vermelha, a estola pontifícia e a cruz peitoral dourada, o que não tinha acontecido 12 anos antes.

Nas primeiras palavras da sua alocução, Leão XIV desejou a paz em nome de Cristo ressuscitado e no fim recordou que 8 de Maio é o dia da súplica a Nossa Senhora de Pompeia. Recitou a Avé Maria juntamente com os fiéis e deu a sua primeira bênção Urbi et Orbi, com a concessão da indulgência plenária e com a invocação de São José, protector da Igreja. O dia 8 de Maio é também a festa de Maria Medianeira de todas as graças e de São Miguel Arcanjo, Príncipe da Milícia Celeste. Este facto não passou despercebido a quem está atento à linguagem dos símbolos.

Muitos estão a tentar reconstruir os actos e as palavras do Bispo e, depois, do Cardeal Prevost, para tentar perceber qual será a agenda do seu pontificado. Receia-se que a descontinuidade na forma, em relação ao Papa Francisco, não seja acompanhada por uma distância semelhante no conteúdo. Mas numa época em que a praxis prevalece sobre a doutrina, a restauração da forma já contém, implicitamente, uma restauração da substância. É preciso também lembrar que, no momento da sua eleição, cada Papa recebe graças de estado proporcionais à sua tarefa. Já aconteceu várias vezes que a posição de um pontífice muda assim que ele assume o ministério petrino. Por isso, como muito bem disse o Cardeal Raymond Leo Burke, numa declaração em que manifestou o seu apoio ao novo Pontífice, é necessário rezar para que o Senhor lhe conceda «abundante sabedoria, força e coragem para fazer tudo o que Nosso Senhor lhe pede nestes tempos tumultuosos». À intercessão de Nossa Senhora de Guadalupe, recordada pelo Cardeal Burke, sugerimos que se acrescente a de Nossa Senhora do Bom Conselho, venerada no santuário agostiniano de Genazzano.

É claro que não podem cessar a vigilância e a luta contra os inimigos externos e internos da Igreja, mas esta não é a hora da decepção e da preocupação, é a hora da alegria e da esperança. É a hora da alegria porque a Igreja Romana elegeu o Vigário de Cristo, Leão XIV, renovando a cadeia apostólica que o liga ao Apóstolo Pedro. É a hora da esperança porque o sucessor de Pedro é a Cabeça, na terra, do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, e a Igreja, mesmo no meio das provações e perseguições a que tem sido sujeita na história, levanta-se sempre triunfante, como o seu Divino Fundador.

Comentando as palavras do Evangelho de Lucas (24, 36-47), Santo Agostinho escreveu: «Como ouvistes, o Senhor, depois da sua ressurreição, apareceu aos seus discípulos e saudou-os, dizendo: "A paz esteja convosco". Eis que a paz é a saudação da salvação, pois a própria palavra "saúde" tem o nome de salvação. O que há então de melhor do que a própria salvação saudar o homem? Porque a nossa salvação é Cristo. Ele mesmo é a nossa salvação, aquele que foi coberto de feridas por nós, pregado no madeiro da cruz, e depois, tendo sido retirado do madeiro, foi colocado no túmulo. Do túmulo, porém, ressuscitou com as feridas curadas, mas conservando as cicatrizes. Porque julgou útil para os seus discípulos que as suas cicatrizes fossem conservadas, para que com elas fossem curadas as feridas dos seus corações. Que feridas? As feridas da incredulidade» (Sermão 116, 1. 1).

A incredulidade de um mundo que virou as costas a Cristo é a principal causa da falta de paz no nosso tempo. Por isso, Leão XIV, filho de Santo Agostinho, na sua primeira homilia, pronunciada no dia 9 de Maio perante os cardeais eleitores, referindo-se às trevas de um mundo sem fé, disse que a Igreja deve ser «cada vez mais uma cidade colocada sobre a montanha, uma arca de salvação que navega através das ondas da história, um farol que ilumina as noites do mundo». O Papa recordou depois a célebre expressão de Santo Inácio de Antioquia (cf. Carta aos Romanos, Saudação), quando, «conduzido acorrentado a esta cidade, lugar do seu iminente sacrifício, escreveu aos cristãos que ali se encontravam: "Então serei verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo não vir o meu corpo" (Carta aos Romanos, IV, 1). Referia-se ao facto de ter sido devorado pelas feras do circo – e assim aconteceu – mas as suas palavras recordam, num sentido mais geral, um compromisso a que não pode renunciar quem, na Igreja, exerce um ministério de autoridade: desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado (cf. Jo 3,30), gastar-se ao máximo para que a ninguém falte a oportunidade de O conhecer e amar. Que Deus me dê esta graça, hoje e sempre, com a ajuda da terna intercessão de Maria Mãe da Igreja».

Ressoa nestas palavras quase como um presságio. Na sua primeira aparição na loggia da Basílica de S. Pedro, o rosto de Leão XIV estava manchado de algumas lágrimas. Estas lágrimas discretas podem exprimir a emoção de um homem que, diante de uma multidão que ovacionava, passa em revista todo o seu passado, desde a paróquia de Chicago até à sua inesperada chegada ao topo da Igreja. Mas podem também manifestar a aflição de quem vislumbra o futuro da Igreja e do mundo.

Como não recordar o pranto silencioso e profético de Nossa Senhora em Siracusa, onde o Cardeal Prevost se deslocou em Setembro do ano passado, por ocasião do 71º aniversário da lacrimação milagrosa? E como não recordar, na véspera do dia 13 de Maio, o Terceiro Segredo de Fátima, que descreve um Papa, «aflito de dor e tristeza», passando por uma cidade em ruínas, subindo em direcção a uma montanha onde o espera o martírio aos pés da Cruz?

O futuro do Papa Leão XIV só Deus conhece, mas a mensagem de Fátima, com a sua promessa do triunfo final do Imaculado Coração de Maria, é uma certeza que anima os corações devotos nestes dias surpreendentes de Maio que deram um novo Papa à Igreja.

Contribua com qualquer valor para o site "Cristãos Atrevimentos" Quero Doar Fonte: Corrispondenza Romana

https://www.corrispondenzaromana.it/leone-xiv-e-il-futuro-della-chiesa/

 

 

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