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A doença do Papa Francisco e a devoção ao Papado

01 de Março de 2025

Roberto de Mattei

Roberto de Mattei

A doença do Papa Francisco e a devoção ao Papado

A 22 de Fevereiro, após alguns dias de internamento no Hospital Gemelli, a saúde do Papa Francisco deteriorou-se. Era o dia da festa da Cátedra de São Pedro, uma tradição muito antiga, atestada em Roma desde o século IV, com a qual se dá graças a Deus pela missão confiada por Cristo ao Apóstolo Pedro e aos seus sucessores de apascentar, guiar e governar o seu rebanho universal.

Na abside da Basílica de São Pedro, Gian Lorenzo Bernini criou um monumento à Cátedra do Apóstolo, sob a forma de um grande trono de bronze, sustentado por estátuas de quatro Doutores da Igreja, dois do Ocidente, Santo Agostinho e Santo Ambrósio, e dois do Oriente, São João Crisóstomo e Santo Atanásio.

Um outro grande Doutor da Igreja, São Jerónimo, escreve: «Decidi consultar a Cátedra de Pedro, onde se encontra aquela fé que a boca de um Apóstolo exaltou; venho agora pedir um nutrimento para a minha alma ali, onde outrora recebi a veste de Cristo. Não sigo outro primado senão o de Cristo; por isso, coloco-me em comunhão com a vossa beatitude, isto é, com a Cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja» (As Cartas I, 15, 1-2).

Nesta passagem, que data do final do século IV, São Jerónimo não só proclama a doutrina do Primado de Pedro, que será definida como regra de fé pelo Concílio de Florença, pelo Concílio de Trento e, sobretudo, pelo Concílio Vaticano I, com a constituição Pastor Aeternus, mas afirma também a necessidade da devoção ao Papa como elemento fundamental da espiritualidade católica. A devoção ao Papa, como a devoção a Nossa Senhora, é um pilar da espiritualidade católica. Esta devoção não se dirige a um princípio abstracto, mas a um homem que encarna um princípio e que, na sua precariedade humana, é também o Vigário de Cristo.

O Papa, enquanto homem, é fraco e falível. A sua fragilidade é física, psicológica, moral. Enquanto pessoa privada, o Papa pode ser imoral, ambicioso, até mesmo herético ou sacrílego. Como pessoa pública, o Papa, embora não seja infalível no governo da Igreja, pode ser infalível no seu ensinamento. Para o ser, deve preencher determinadas condições, que foram clarificadas pela constituição Pastor Aeternus, de 18 de Julho de 1870. O Papa deve falar como pessoa pública, ex cathedra, com a intenção de definir uma verdade de fé e de moral, e de a impor como obrigatória a todos os fiéis. Infelizmente, isto aconteceu muito raramente no último século.

A doença do Papa, a morte do Papa, de cada Papa, recorda-nos a existência deste contraste entre a pessoa privada do Papa, que pode ser fraca e vacilante, e aquela pública, que exprime a infalibilidade da Igreja.

Há uma diferença entre a morte de um Papa e a morte de um soberano temporal. O Rei obtém a sua legitimidade pelo sangue, ou seja, pelo laço biológico que o liga aos seus antepassados. Quando morre, sobrevive no seu herdeiro, a quem o mesmo sangue o liga. O Papa, pelo contrário, é completamente alheio a esta fisicalidade biológica. O Papa não sobrevive noutros homens, porque o Papa não tem herdeiros biológicos. Morreu o Rei, viva o Rei, diz-se no momento em que o monarca exala o último suspiro. Não é o caso do Papa, porque a eleição do seu sucessor não ocorre um momento após a sua morte, mas apenas depois de um conclave, que também pode ser longo e contrastado. Poder-se-ia dizer morreu o Papa, viva a Igreja, porque antes do Papa está a Igreja, que o precede e lhe sobrevive, sempre viva e sempre vitoriosa.

As monarquias e os impérios terrenos, como os organismos humanos, nascem e morrem. As civilizações são mortais. A Igreja, nascida do sangue do Calvário, pelo contrário, é imortal e indefectível: durará até ao fim do mundo.

O contraste entre a decadência física da pessoa e a imortalidade da instituição era outrora expressa por um rito que se celebrou até 1963. O Papa, depois da sua eleição, aparecia na Basílica de São Pedro, em toda a sua majestade, na sede gestatória, rodeado pelos guardas suíços e pelos guardas nobres, enquanto dois camareiros secretos, de capas vermelhas com arminho branco, seguravam os flabelos. A certa altura do percurso, um mestre-de-cerimónias, genuflectindo três vezes perante o Pontífice, acendia maços de estopa enfiados numa vara de prata e, enquanto a chama ardia, cantava lentamente: «Pater Sancte, sic transit gloria mundi!» «Santo Padre, assim passa a glória humana».

Ao homem que nesse dia recebia a coroa destinada à mais alta autoridade da terra, as palavras sic transit gloria mundi admoestavam: não te vanglories da glória que hoje te envolve, recorda-te que és um homem frágil, destinado a adoecer e a morrer.

Esta cerimónia teve lugar pela última vez, na Praça de São Pedro, a 30 de Junho de 1963, por ocasião da coroação de Paulo VI. Quando o Papa, depois da Missa Pontifical, depôs a mitra e assumiu a tiara, ressoou, pela última vez depois de muitos séculos, a fórmula solene: «Recebe a tiara adornada com três coroas, e sabe que és o pai dos príncipes e dos reis, o soberano do mundo, o Vigário na terra do Nosso Salvador Jesus Cristo, a Quem seja dada honra e glória pelos séculos dos séculos».

Uma das primeiras decisões do novo Pontífice foi precisamente abolir a cerimónia da Coroação Pontifícia, que era anterior ao século IX, tal como consta do Ordo Romanus IX, da época de Leão III.

A partir do gesto de Paulo VI, começava aquela confusão entre o homem e a instituição, destinada a dissolver a autêntica devoção ao Papado: uma devoção que não é o culto do homem que ocupa a Cátedra de Pedro, mas é o amor e a veneração pela missão pública que Jesus Cristo confiou a Pedro e aos seus sucessores. Esta missão pode ser levada a cabo por um homem fraco, inadequado à sua tarefa, que, no entanto, permanece o legítimo sucessor de Pedro, e que deve ser amado e seguido mesmo na sua fragilidade, sofrimento e morte.

Por isso, o Professor Plinio Corrêa de Oliveira escreveu, há muitos anos, com palavras extraordinariamente actuais: «Na gloriosa cadeia formada pela Santíssima Trindade, Nossa Senhora e o Papado, este último constitui o elo menos forte: porque é mais terreno, mais humano e, em certo sentido, envolto em aspectos que podem desacreditá-lo. É costume dizer-se que o valor de uma corrente se mede precisamente pelo seu elo mais frágil. Assim, a melhor maneira de amar esta extraordinária corrente é beijar o seu elo menos forte: o Papado. É consagrar à Cátedra de Pedro, sobre a qual recaem tantas lealdades, toda a nossa lealdade!».

Contribua com qualquer valor para o site "Cristãos Atrevimentos" Quero Doar Traduzido por: Diogo Ribeiro de Campos

Publicado em: corrispondenzaromana.it

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