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Como decaem as grandes marcas

01 de Julho de 2025

Armando Alexandre dos Santos

Armando Alexandre dos Santos

Como decaem as grandes marcas

Pertenci, no velho e já quase pré-histórico Orkut, a um grupo de aficionados por máquinas fotográficas da tradicional empresa alemã Carl Zeiss. Para os fotógrafos exigentes (e estes são, infelizmente, cada vez mais uma minoria, se bem que ainda se encontrem com alguma facilidade), uma câmera Zeiss é um patamar de excelência, sobretudo pela alta qualidade da sua ótica.

Desde meados do século XIX, a fábrica Carl Zeiss, de Iena, na Alemanha, produzia os melhores microscópios de precisão do mundo. Herr Zeiss, o fundador da empresa, costumava levar à cintura um martelo, e quando um microscópio produzido na fábrica não passava por seu severíssimo controle de qualidade, não o consertava nem corrigia o defeito, por mais insignificante que este fosse. Mas, por uma questão de princípio, esmigalhava o aparelho a marteladas, na frente de todos os empregados, para que todos aprendessem que só coisas perfeitas poderiam ser colocadas no mercado com a marca Carl Zeiss. Esse martelo se tornou lendário, símbolo da altíssima qualidade dos produtos da empresa.

Mais tarde, ela se lançou no mercado de máquinas fotográficas e se tornou uma das maiores produtoras mundiais. Suas câmeras, as Zeiss Ikon, sempre de mecânica avançadíssima para a época e de ótica perfeita, durante quase um século competiram com as produzidas pela sua grande rival, a Leitz, fabricante da famosíssima e glamurosa Leica.

Na década de 1930, o físico holandês Dr. Fritz Zernike (1888-1966), durante um estágio que fez na Zeiss, propôs a fabricação de um novo tipo de microscópio de contraste de fase, mas os técnicos da empresa rejeitaram o projeto, dizendo que, se fosse prático, já teriam pensado nele antes e a empresa já o estaria realizando. Zernike prosseguiu, sem ajuda da Zeiss, o desenvolvimento do seu projeto, e graças a ele conquistou, em 1953, o Prêmio Nobel da Física.

Quanto a Zeiss, foi pouco a pouco decaindo, por não saber se adaptar aos tempos novos. Continuou a fabricar máquinas fotográficas de altíssima qualidade até 1972, quando parou de fabricá-las por não poder concorrer com as japonesas, muito mais baratas e acessíveis a um público menos exigente. A Leitz continuou, e ainda hoje continua a produzir as melhores câmeras do mundo, a preços muito mais elevados do que os das japonesas, para um público fiel menor, muito exigente e que não discute preços. Nesse nível, as Leica são imbatíveis.

Esse público especial, a Zeiss teria podido disputar com a Leitz em igualdade de condições, mas não quis fazê-lo. Preferiu continuar teimando em produzir câmeras muito superiores e mais caras do que as japonesas, mas disputando o mesmo público de nível médio das japonesas - um público que não tinha condições de compreender nem de pagar o produto superior. Acabou tendo que fechar melancolicamente as portas de sua fábrica de máquinas. Ainda existe a empresa, produzindo lentes e vendendo-as aos japoneses da Sony, mas não dá nem uma pálida ideia do que foi no passado. Por quê? Porque o seu apego às rotinas consagradas a impediu de se adaptar às necessidades dos novos tempos.

Possuo uma das últimas câmeras Contaflex-S produzidas pela Zeiss, no ano mesmo em que cerrou suas portas, ou seja, 1972. Possuo também um velho binóculo da mesma fábrica, produzido há perto de 100 anos. Está impecável, funcionando perfeitamente. Sua ótica é admirável, com uma nitidez e uma fidelidade de imagem espantosas.

Contribua com qualquer valor para o site "Cristãos Atrevimentos" Quero Doar NR: Este artigo foi escrito na ortografia original em uso no Brasil.

(*) ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS é licenciado em História e doutorado em Filosofia e Letras pela Universidade de Alicante (Espanha). É Professor de História Militar na Universidade do Sul de Santa Catarina, jornalista, escritor e membro da Academia Portuguesa da História e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

 

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