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Hiroxima, Nagasaki e a mensagem de Fátima

30 de Junho de 2025

Roberto de Mattei

Roberto de Mattei

Hiroxima, Nagasaki e a mensagem de Fátima

Faz agora oitenta anos, a Segunda Guerra Mundial estava a chegar ao fim. Contudo, mesmo após a rendição da Alemanha nazi, a 8 de Maio de 1945, os Estados Unidos continuavam em guerra com o Japão. E assim, na manhã de 6 de Agosto de 1945, às 08h15, a força aérea americana lançou uma bomba atómica sobre a cidade japonesa de Hiroxima; três dias depois, a 9 de Agosto, uma segunda bomba fazia explodir Nagasaki. As duas cidades ficaram reduzidas a pilhas de escombros e o número total de vítimas foi estimado em cerca de 200 000, quase todas civis. A 14 de Agosto, o Imperador Hiro Hito aceitou a rendição incondicional do Japão.

As autoridades políticas e militares americanas afirmaram que este massacre tinha servido para encurtar o conflito, poupando a vida a um grande número de soldados americanos e japoneses, que teriam morrido se as operações militares se tivessem prolongado. No entanto, teria bastado detonar a bomba num alvo exclusivamente militar para demonstrar de forma espectacular a potência da mesma, sem massacrar tantos inocentes. A Convenção de Haia sobre as Leis e os Usos da Guerra, assinada em 1907 e vigente à época, estipulava no seu artigo 25º: «É proibido atacar ou bombardear, seja por que meio for, cidades, aldeias, habitações ou edifícios que não estejam defendidos». Mas esta regra já tinha sido violada por ambos os lados beligerantes, tornando assim imorais muitas acções bélicas da Segunda Guerra Mundial.

A bomba atómica foi, e continua a ser, o dispositivo mais devastador que a mente humana pode conceber. As ogivas nucleares de Hiroxima e Nagasaki tinham, respectivamente, 15 e 20 quilotoneladas; as actuais ogivas (americanas, russas e chinesas) são cinco a dez vezes mais potentes, se forem utilizadas como armas tácticas, enquanto as bombas estratégicas podem ser dezenas ou centenas de vezes mais potentes.

No entanto, segundo a doutrina católica, por muito terrível que seja, a bomba nuclear é menos grave do que um único pecado grave. São Tomás de Aquino explica porquê: «O pecado mortal é um mal imenso, segundo a sua espécie, que excede todos os danos corporais, incluindo a corrupção de todo o Universo material» (Summa Theologiæ, I-II, q. 73, a. 8, ad 3). O mal físico pode desempenhar um papel na providência divina e servir um bem maior, mas um único pecado mortal é pior do que todos os males físicos do Universo juntos, porque é uma ofensa directa e voluntária a Deus, que tem como consequência a perda eterna da alma, e o bem da alma é infinitamente superior ao do corpo (cf. Summa Theologiæ, II-II, q. 26, a. 3).

No entanto, tanto em Hiroxima como em Nagasaki aconteceram coisas que nos recordam que o amor de Deus é mais forte do que a morte e pode proteger-nos de todos os males.

De facto, em 1945, havia em Hiroxima uma pequena comunidade de padres jesuítas alemães que viviam na casa paroquial da igreja de Nossa Senhora da Assunção, localizada apenas a oito quarteirões do epicentro da explosão da bomba nuclear. Um desses jesuítas, o Padre Hubert Schiffer (1915-1982), conta tinham acabado de celebrar a missa e estavam a tomar o pequeno-almoço quando a bomba caiu: «De repente, uma explosão aterradora encheu o ar como que de uma tempestade de fogo. Eu fui arrancado da cadeira por uma força invisível, que me lançou pelos ares, me abanou, e me fez dar voltas, qual folha levada por uma rajada de vento de Outono». Os quatros jesuítas viram-se envoltos num inferno de fogo, fumo e nuvens tóxicas durante um dia inteiro, mas nenhum deles foi contaminado pelas radiações e a paróquia manteve-se de pé, ao passo que todas as casas em redor foram destruídas e não houve sobreviventes. Quando os religiosos foram resgatados, os médicos constataram com espanto que os corpos de todos eles pareciam imunes à radiação e a todos os efeitos nocivos da explosão. O Padre Schiffer viveu mais trinta e sete anos, sempre saudável, e participou no Congresso Eucarístico que teve lugar em Filadélfia em 1976; nesse ano, todos os membros da comunidade de Hiroxima continuavam vivos. Desde o dia em que as bombas caíram, os jesuítas que sobreviveram ao cataclismo foram examinados mais de duzentas vezes por cientistas, que não chegaram a nenhuma conclusão, a não ser que a sua sobrevivência à explosão era um acontecimento inexplicável para a ciência humana.

Os jesuítas atribuíram o facto de terem sido salvos a Nossa Senhora de Fátima, por quem tinham grande devoção, rezando o terço todos os dias. «Como missionários que éramos, queríamos viver a mensagem de Nossa Senhora de Fátima no nosso país; por isso, rezávamos o terço todos os dias», atesta o Padre Schiffer.

Em Nagasaki, teve lugar um milagre semelhante. Nesta cidade, existia um convento franciscano com o nome de Mugenzai no Sono (Jardim da Imaculada), que tinha sido fundado por São Maximiliano Kolbe, o apóstolo da Imaculada, que morrera a 14 de Agosto de 1941 em Auschwitz. Este convento também saiu ileso da explosão da bomba atómica, tal como tinha acontecido à casa dos jesuítas de Hiroxima. Os franciscanos de Nagasaki tinham muita devoção pela Imaculada Conceição e difundiam a mensagem de Fátima.

Estes dois episódios confirmam uma grande verdade: que não é da bomba atómica que devemos ter receio, mas da desordem moral que aflige a humanidade. O pecado é a única razão dos males físicos que nos inundam, porque, como diz São Paulo, foi pelo pecado que o sofrimento e a morte entraram no mundo (cf. Rm 5,12). Mas a oração vence o mal, e Nossa Senhora ensinou-nos em Fátima que a arma por excelência do combatente cristão é o santo rosário. Numa entrevista de 26 de Dezembro de 1957 ao Padre Agustín Fuentes, dizia a Irmã Lúcia, uma das videntes de Fátima: «O castigo do Céu está iminente. [...] Deus decidiu dar ao mundo os dois últimos remédios contra o mal, que são o terço e a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Não haverá outros remédios [...]. Não há problema, por mais difícil que seja, de carácter material ou, sobretudo, espiritual, na vida privada de cada um de nós ou na vida dos povos e das nações, que não possa ser resolvido pelo santo rosário».

É verdade, portanto, que o terço é mais forte do que a bomba atómica.

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Publicado em: Corrispondenza Romana

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