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Conseguirá o novo Leão afastar os lobos?

21 de Maio de 2025

Tradizione Famiglia Proprietà

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Conseguirá o novo Leão afastar os lobos?

José António Ureta

 

Em pouco mais de duas semanas, a Igreja, que parecia estar nas vascas da agonia, deu provas de uma inesperada vitalidade, demonstrando a sua origem divina e a assistência continuada do Espírito Santo.

Os meios de comunicação liberais gostavam de sublinhar que, a despeito do pontificado populista e modernizador do falecido Papa Francisco, a hemorragia da prática religiosa continuava a alastrar no seio da Igreja Católica, com o consequente encerramento de igrejas devido ao incessante declínio nas ordenações sacerdotais, à correspondente redução das receitas para a manutenção das actividades litúrgicas e caritativas, e, pior ainda, aos conflitos internos provocados pela «abertura» do pontífice argentino. Previam estes analistas que a grande instituição que moldou a cultura e a civilização ocidentais, influenciando o mundo inteiro com o seu pensamento, não tardaria a tornar-se insignificante...

Pois não foi assim! A deslocação de mais de uma centena de chefes de Estado para o funeral de Francisco, bem como a presença em Roma de mais de 1500 jornalistas com a missão de cobrirem as congregações gerais do Colégio dos Cardeais, o conclave e a eleição do novo Papa chamaram a atenção de milhões de católicos e não católicos dos cinco continentes. A milenar instituição fundada por Jesus Cristo aparecia aos olhos de todos no seu maior esplendor – e era cativante.

O escritor boliviano José Andrés Rojo exprimia esta impressão nas páginas do El Pais, diário de esquerda publicado em Madrid:

Um leigo que se aproxime deste processo fica deslumbrado com os protocolos pelos quais é regido. A meticulosa gestão do tempo, a cuidadosa disposição de figuras, espaços e cores, os paramentos dos protagonistas, a informação transmitida gota a gota, o espectáculo. […] Os líderes da nova ordem mundial acorreram ao Vaticano para aprenderem com a Igreja Católica. Não estão propriamente interessados nas homilias, nas reflexões teológicas nem nos mandamentos; mas querem compreender como funcionam os esplêndidos cerimoniais, para aprenderem a conquistar o afecto e a agitar as emoções do rebanho, a fim de poderem conduzi-lo a essa nova época dourada que insistem em prometer1.

E, de facto, durante vinte e quatro horas, os olhos do mundo convergiram na gaivota orgulhosamente postada ao lado da pequena chaminé montada pelos funcionários do Vaticano, de onde sairia o fumo – preto ou branco – a assinalar o resultado da misteriosa votação da mais aristocrática eleição do mundo democratizado dos nossos dias.

O conclave reuniu 133 eleitores, na sua maioria escolhidos pelo defunto soberano com base em critérios um tanto voláteis, e que não tinham tido oportunidade de se conhecer intimamente, como acontecia no passado, em consistórios periodicamente organizados. A dificuldade adicional de serem oriundos de 71 países, com culturas e interesses pastorais muito diversos, prenunciava um longo processo de eleição de alguém que reunisse o consenso de nada menos que dois terços deste corpo eleitoral tão heterogéneo; uma heterogeneidade agravada pelas divergências teológicas entre os prelados progressistas, desejosos de prosseguir a aventureira «alteração de paradigma» empreendida pelo Papa Francisco, e aqueles que viam na abertura do falecido pontífice ao zeitgeist uma traição à mensagem evangélica, a ponto de não poucos observadores levantarem a hipótese de um cisma.

Uma vez mais, as expectativas saíram todas goradas, pois o 267º sucessor de São Pedro foi eleito no termo de apenas quatro escrutínios. O Cardeal-Arcebispo de Argel, prelado ultraprogressista, revelou que, após um primeiro momento de «expressão das diferenças» nas votações, «se verificou rapidamente uma unanimidade imensa», a tal ponto que, segundo este prelado, a eleição «poderia ter terminado mais cedo»2, o que dá a entender que o Cardeal Robert Francis Prevost quase atingiu a necessária maioria qualificada no terceiro escrutínio. Foi uma escolha que contraria as previsões das casas de apostas e os desejos secretos dos que ansiavam por um sucessor que prosseguisse a aventura bergogliana, desocidentalizando ainda mais a Igreja Católica e orientando-a na direcção das periferias do Sul Global.

Inspirado pela prudência, que exigia uma figura capaz de unir uma Igreja profundamente dividida pela linha pastoral e pelo estilo autoritário de Francisco, uma Igreja que possa voltar a conduzir os fiéis e a iluminar as consciências no meio do caos geopolítico actual – e, espera-se, guiado pela inspiração do Espírito Santo –, o Colégio dos Cardeais escolheu uma pessoa desconhecida do grande público, mas que encarna os traços sugeridos pelo Cardeal Timothy Dolan em entrevista concedida à NBC [https://www.youtube.com/watch?v=oN0BQhxs0l4] em Nova Iorque, antes de embarcar para Roma:

Gostaria muito que fosse uma pessoa com o vigor, a convicção e a fortaleza de João Paulo II. Gostaria muito que fosse uma pessoa com a capacidade intelectual do Papa Bento. Gostaria muito que fosse uma pessoa com o coração do Papa Francisco... Uma pessoa com o mesmo estilo de Francisco, com aquele calor, aquele coração, aquele sorriso, aquela bondade, aquele abraço, talvez com um pouco de João Paulo II e Bento XVI em termos de maior clareza na transmissão da doutrina, maior requinte em relação à tradição da Igreja, uma recuperação mais profunda dos tesouros do passado para nos recordar o que Jesus espera de nós no presente.

O requinte em relação à tradição da Igreja esteve claramente presente logo na primeira aparição de Leão XIV na loggia, que não deixou nada a desejar aos corações apaixonados pelos esplendores da pontifícia pompa: mozzetta e estola bordada, peitoral e cruz processional em ouro, sem improvisações personalistas, com um discurso escrito, proferido em tom sóbrio e com uma acentuada nota religiosa, centrando a sua missão na pregação de Cristo ressuscitado e colocando o seu ministério petrino filialmente nas mãos de Nossa Senhora. Uma devoção mariana confirmada no dia seguinte pela inesperada visita de Leão XIV ao santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, o inspirador fresco de traços orientais que foi transportado por anjos da Albânia para os arredores de Roma, e que é o centro da devoção mariana da Ordem de Santo Agostinho, à qual o novo Papa pertencia.

A primeira homilia de Leão XIV aos cardeais, proferida na Capela Sistina, também foi uma chamada de atenção para aquilo que Jesus espera de nós hoje. Comentando o contexto do episódio evangélico da confissão de São Pedro, o novo sucessor do Apóstolo sublinhou [https://www.vatican.va/content/leo-xiv/pt/homilies/2025/documents/20250509-messa-cardinali.html] que ele decorre num contexto semelhante ao nosso, ou seja, num «mundo que considera Jesus uma pessoa totalmente desprovida de importância, quando muito uma personagem curiosa», e que «não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo» quando a sua presença se tornar inconveniente; depois, há aqueles que vêem nele um homem que diz o mesmo tipo de coisas que outros grandes profetas, e que O seguem «pelo menos enquanto podem fazê-lo sem demasiados riscos ou inconvenientes», mas que «O consideram apenas um homem» e, por isso, «no momento do perigo, durante a Paixão», O abandonam e se «vão embora, desiludidos». Segundo o novo papa, qualquer destes dois comportamentos é muito actual: «Eles encarnam ideias que poderíamos facilmente reencontrar – talvez expressas com uma linguagem diferente, mas essencialmente idênticas – nos lábios de muitos homens e mulheres do nosso tempo»; de facto, mesmo entre os baptizados, há muito quem reduza Jesus «a uma espécie de líder carismático ou super-homem», acabando por «viver, a este nível, num ateísmo prático».

Esta visão do estado da humanidade é a antítese do optimismo bem-aventurado que presidiu à convocação, aos debates e às opções pastorais do Concílio Vaticano II, baseado na ideia de que a humanidade se encaminhava para os valores do Evangelho e que, por isso, já não eram necessários anátemas, bastando uma apresentação positiva desses valores. A imagem da Igreja militante deveria, pois, ser substituída pela da Igreja peregrina, que caminhava de mãos dadas com o mundo em direcção a um Reino escatológico cuja localização – neste mundo ou no outro – era incerta.

A visão do novo Papa nada tem que ver com isto. Confrontado com uma humanidade que despreza, ignora ou desvaloriza Cristo, ele chama-nos a «testemunhar a alegria da fé em Cristo Salvador» e a repetir com São Pedro: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Uma tarefa que o sucessor do Apóstolo reconhece ter recebido como um tesouro, «para que, com a sua ajuda, eu seja seu fiel administrador», de modo que a Igreja «seja cada vez mais cidade colocada sobre o monte, arca de salvação que navega sobre as ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo». Estamos muito longe da Declaração de Abu Dhabi e das escandalosas afirmações de Singapura, segundo as quais todas as religiões são caminhos para Deus...

Ainda é cedo para saber até onde levará o novo Papa este programa missionário, mas uma coisa é clara: a sua eleição representa um regresso à ordem. Esperemos que não seja apenas ao nível das aparências exteriores – pois, como dizia sabiamente Victor Hugo, «a forma é a substância a vir à superfície» –, mas também ao nível doutrinal e disciplinar, para que a imensa confusão semeada pelo pontífice anterior, com as suas declarações precipitadas e os seus documentos controversos, como Amoris lætitiæ e Fiducia supplicans, possa ser dissipada, e chegue ao fim a perseguição a clérigos, intelectuais e fiéis que foram postos de lado e sancionados pela sua fidelidade aos ensinamentos morais da Igreja e aos seus imemoriais ritos litúrgicos.

Ao explicar a sua escolha do nome Leão, o novo Pontífice referiu que uma das razões era a memória de Leão XIII, que lançou as bases da Doutrina Social da Igreja em resposta aos desafios da Revolução Industrial, tal como hoje a Igreja se confronta com os desafios da nova revolução digital. Outra explicação poderia ser o seu afecto por Leão XIII, que nasceu perto de Genazzano, foi educado pelos agostinhos e foi quem incluiu a invocação «Mater Boni Consilii» na ladainha de Loreto.

De acordo com Le Figaro, o cardeal sérvio Ladislav Nemet terá contado uma graça que circula entre os cardeais, e que é mais uma explicação para a escolha do nome: «Até agora, tivemos Francisco, que falava com os lobos; agora, temos um leão que afugentará os lobos»3.

Esperemos que o faça, afastando de uma vez por todas o «fumo de Satanás» que entrou na Igreja no tempo de Paulo VI, e pondo fim ao «misterioso processo de autodemolição» que conduziu à crise actual. Possa Leão XIV ir para além das intenções dos cardeais eleitores (que o terão escolhido como mera figura de consenso) e restabelecer efectivamente a paz na Igreja.

Esperemos que ela seja a verdadeira paz de Santo Agostinho, isto é, «a tranquilidade na ordem», que pressupõe a eliminação, o mais radical possível, dos factores de desordem doutrinal e disciplinar que grassam em todos os meios católicos, especialmente na Europa. Com esta esperança, juntemos a nossa voz à dos milhares de fiéis que, diante da loggia da Basílica de São Pedro, aclamaram Leão XIV com um sonoro «Viva il Papa!».

Contribua com qualquer valor para o site "Cristãos Atrevimentos" Quero Doar 1 «Trump toma nota del antiguo régimen – Los rituales y ceremoniales de la Iglesia católica sirven para soldar los afectos y emociones de los fieles», El País, 02/05/2025.

2 Élisabeth Pierson, «Le 267e successeur de Pierre suscite l’enthousiasme de ses pairs», Le Figaro, 10/05/2025, p. 4.

3 Jean-Marie Guénois, «Son nom est son programme: pourquoi le pape a choisi de s’appeler Léon XIV», Le Figaro, 10/05/2025, p. 4.

Fonte: https://www.atfp.it/notizie/chiesa/3064-il-nuovo-leone-riuscira-a-scacciare-i-lupi

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