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Como será a assembleia eclesial de 2028? (I Parte)

21 de Abril de 2025

Colaborador Externo

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Como será a assembleia eclesial de 2028? (I Parte)

José Antonio Ureta

Julio Loredo


[A 25 de Novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, no final da Missa vespertina da Assembleia Eclesial em curso na Cidade do México, as religiosas e as leigas presentes abençoam cardeais, bispos e outros concelebrantes. Screenshot, https://youtu.be/qcWATjWooEs?t=4488 1:14:50]

A 11 de Março passado, da sua cama do Hospital Gemelli – onde, oito dias antes, tinha estado à beira da morte –, o Papa Francisco convocou a Igreja universal a reunir-se em Assembleia Eclesial em Outubro de 2028. É possível que, nessa data, o papa já seja outro. Aparentemente, a ideia é garantir que o Sínodo sobre a Sinodalidade chegue à fase conclusiva da sua «recepção». O Pontífice pretende deixar a sinodalidade como o principal legado do seu pontificado.

Contribua com qualquer valor para o site "Cristãos Atrevimentos" Quero Doar Em declarações a Vatican News, o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, o Cardeal Mario Grech, de Malta, afirmou que esta Assembleia Eclesial substituirá uma nova Assembleia Sinodal sobre a sinodalidade1. Qual é a diferença? Para que uma assembleia possa ser definida como sinodal, os participantes na mesma têm de ser, na sua maioria, bispos; o mesmo não se aplica a uma assembleia eclesial, que, como o nome indica, reúne todo o Povo de Deus, que é constituído maioritariamente por leigos, sobretudo mulheres.

Esta hipótese – acertadamente avançada pelo famoso canonista Padre Gerald Murray num artigo publicado em The CatholicThing2 – é confirmada por um precedente menos conhecido: a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que teve lugar entre 2019 e 2021, culminando num evento híbrido – presencial e online – com mais de mil delegados. Uma vez que as restrições impostas pela pandemia da Covid 19 ainda estavam em vigor, 966 delegados a esta assembleia participaram na mesma online, com 72 reunidos presencialmente na Cidade do México de 21 a 28 de novembro de 20213.

A iniciativa para esta Assembleia Eclesial continental partiu do próprio Papa Francisco. Os líderes do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (mais conhecido pelo seu acrónimo espanhol, CELAM) tinham pedido autorização ao Papa para realizarem a VI Conferência Geral do Episcopado; e o Pontífice propôs-lhe (de forma «profética», segundo os organizadores) que, em vez disso, «abrissem espaço para um processo mais de acordo com o nosso tempo: uma reunião eclesial e sinodal, na qual todo o Povo de Deus pudesse participar e exprimir-se», a fim de «empreender novos desafios pastorais»4.

Na realidade, o número de prelados presentes no referido encontro final na Cidade do México era inferior a um quarto dos participantes: apenas 10 cardeais (1 %) e 233 bispos (21 %), a juntar aos 264 sacerdotes e diáconos (24 %), o que significa que os representantes do clero estavam em minoria, pois a maioria era constituída por 428 leigos (39 %) e 160 religiosos (15 %), em ambos os casos homens e mulheres5.

Os organizadores mostraram-se orgulhosos desta composição: «É a primeira vez que realizamos uma Assembleia Eclesial – e não apenas uma Assembleia Episcopal – na nossa Igreja, nesta região. Nela experimentamos a novidade do Espírito, que nos surpreende e nos conduz por novos caminhos de conversão e renovação pessoal, comunitária e institucional»6.

O evento foi considerado desde o início uma iniciativa pioneira, destinada a servir, no futuro, de modelo para a Igreja universal. «Tanto o Papa Francisco como a Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos estão muito interessados em conhecer as experiências e as aprendizagens que emergiram do desenvolvimento da Primeira Assembleia Eclesial, bem como do processo de escuta prévio à sua realização. Estamos a oferecer uma novidade à Igreja universal, realizando pela primeira vez uma Assembleia Eclesial na qual participam activamente os vários sectores do Povo de Deus»7.

Tal como no passado, e em especial na Conferência de Medellín de 19688, «a Igreja nesta região foi pioneira em muitos domínios da recepção do Concílio Vaticano II, e continua a sê-lo». Dado que «um fruto muito importante do Sínodo para a Amazónia foi a constituição da Conferência Eclesial da Amazónia (CEAMA), um organismo eclesial sem precedentes na Igreja universal, nascido em junho de 2020 e erigido canonicamente pelo Papa Francisco em 17 de outubro de 2021»9, é claro que a novidade reside no facto de se tratar de uma conferência eclesial e não episcopal, como as existentes no resto do mundo. Além disso, o próprio CELAM está em processo de restruturação, o que significa que «estão a ser lançadas as bases para uma Igreja sinodal na região»10. Por outras palavras, é provável que o CELAM deixe de ser uma conferência episcopal e se torne um conselho eclesial, constituído por todos os baptizados.

Quais são os fundamentos teológicos desta mudança coperniciana nas estruturas da Igreja? São os mesmos que denunciámos no nosso estudo de 2023, Processo Sinodale, un Vaso di Pandora11. No documento que resume as propostas da fase de escuta da Assembleia Eclesial, está dito que a conversão pastoral de que a Igreja latino-americana necessita deve ser entendida «a partir de uma eclesiologia caracterizada pela imagem do Povo de Deus», que «inclui todos os seus membros como sujeitos na Igreja», «tem carácter sacerdotal e profético por via do Baptismo» e «é configurado pelos “carismas”, com uma riqueza múltipla e variada de dons», de modo que todos os fiéis possuem «um instinto de fé – sensus fidei – que os ajuda a discernir o que é verdadeiramente de Deus». Daqui se conclui que «a sinodalidade não pode ser apenas um conceito ou um acontecimento específico, mas deve ser encarnada nas estruturas e nos processos eclesiais», porque é «um modo natural de ser Igreja», onde os leigos «são parte activa e criativa na execução dos projectos pastorais em benefício da comunidade»12.

O objectivo da primeira fase da Assembleia Eclesial, que teve lugar entre Abril e Agosto de 2021, era «discernir os sinais dos tempos e acolher os clamores e as esperanças dos pobres, da nossa irmã mãe terra, e de todo o Povo de Deus». De acordo com os organizadores, participaram nesta primeira fase cerca de 70 000 pessoas: 47 000 em «diversos espaços comunitários» (ou seja, em reuniões de grupo), 8500 com contributos pessoais e 14 000 em fóruns de reflexão temática13.

Num artigo publicado em La Civiltà Cattolica, o Cardeal Pedro Barreto, jesuíta peruano, e Mauricio López, leigo mexicano, co-fundador da Rede Eclesial do Pan-Amazónica e antigo presidente mundial das Comunidades de Vida Cristã (uma espécie de ordem terceira laical jesuíta), fizeram uma avaliação final da assembleia. O seu testemunho é significativo, porque o Cardeal Barreto fazia parte da comissão de animação da mesma e Mauricio López era o coordenador da respectiva comissão de escuta. No artigo, os dois autores reconhecem que estes 70 000 participantes são um número modesto, em comparação com os 350 milhões de católicos da região; no entanto, consideram que se trata de um número significativo, tendo em conta que a consulta teve lugar em plena epidemia da Covid e, sobretudo, quando comparado com «experiências eclesiais recentes, em que a participação se reduziu a algumas dezenas de pessoas, quase sempre de estruturas oficiais»14.

No entanto, o Cardeal Barreto e Mauricio López reconhecem que não conseguiram envolver mais profundamente as vozes dos «improváveis» e que nas delegações enviadas ao México «prevaleceu a tentação de delegar em grupos mais institucionalizados ou mais próximos do pensamento daqueles que ocupam posições de liderança na Igreja»; além disso, estes delegados «deveriam representar as diferentes vozes da Igreja nos respectivos países, mas, em muitos casos, não foi isso que aconteceu»15. Nada de novo sob o sol: o mesmo se passou no clamoroso Caminho Sinodal alemão e nas várias fases do Sínodo sobre a Sinodalidade, com a diferença de que estes dois autores reconhecem o facto.

A comissão de escuta, coordenada por Mauricio López, preparou uma Síntese Narrativa: A Escuta na Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e das Caraíbas16, um documento com mais de 200 páginas que recolhe as principais intervenções no evento, e, na sequência, elaborou o já mencionado Documento para o Discernimento Comunitário, que foi posto à disposição de todos os participantes da Assembleia Eclesial. Trata-se de uma síntese preciosa, porque recolhe, de forma não filtrada, o que o sensus fidei do Povo de Deus estará a dizer à Igreja sob o sopro do Espírito Santo, constituindo por isso uma verdadeira mina de informações sobre as mudanças radicais que a nomenclatura eclesiástica e os seus apoiantes a vários níveis pretendem introduzir na Igreja.

Para facilitar a leitura, os temas apresentados neste documento estão dispostos por uma ordem diferente da que foi escolhida pela comissão de coordenação. Todos os textos são retirados da já referida Síntese Narrativa, indicando-se apenas o número da página, a fim de poupar o leitor ao trabalho de saltitar entre as referências de múltiplas notas.

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1) Clericalismo

Como era previsível, o tema 2.7, «Clericalismo», inserido dentro do bloco temático 2 («Iluminar-discernir a realidade») (p. 82), foi o carburante emocional para instilar uma espécie de luta de classes entre leigos e clero dentro da Igreja. Assim, a chamada praga do clericalismo «confere um poder excessivo ao clero e dificulta o caminho para uma Igreja sinodal em saída» (p. 110); segundo a Síntese, «ainda está muito presente um modelo piramidal e hierárquico da Igreja, que ignora a riqueza da diversidade dos ministérios e dos carismas, impede um modelo comunitário de animação e deixa de fora das funções de serviço muitos membros que apoiam a missão» (p. 108). O tema 4.7, «Os leigos», insiste que a estrutura hierárquica «leva à exclusão dos leigos» (p. 184); e o Fórum 31, dedicado aos leigos, é ainda mais veemente na sua crítica: «Nós, leigos, somos a grande maioria do Povo de Deus. A nossa dignidade vem-nos do Baptismo. A nossa vocação não é menos digna que a dos consagrados. Somos, portanto, sujeitos eclesiais e protagonistas da missão nos processos de decisão. Não devemos aceitar ser considerados colaboradores dos consagrados, pois temos uma co-responsabilidade eclesial e social, que se expressa no caminho sinodal» (p. 185).

Pelo contrário, as Comunidades Cristãs de Base (CCB) «são um modo de [ser] Igreja que resiste ao clericalismo» (p. 108), porque há nelas «um despertar, sobretudo dos leigos, para o reconhecimento da sua própria dignidade e do seu papel ministerial na Igreja, no espírito do Concílio Vaticano II» (p. 108); tais comunidades contribuem para «ultrapassar a divisão/oposição entre clero e laicado, permitindo passar a uma autocompreensão carismática das comunidades eclesiais a partir do binómio comunidade-ministério, de modo a tornar possível a conversão sinodal, com vista à superação do clericalismo» (p. 211). As CCB são o oposto das paróquias tradicionais, que têm «escassa participação efectiva dos leigos nas decisões paroquiais (espaços consultivos ou directivos), bem como na Igreja em geral» (p. 109).

Para combater o clericalismo, «a primeira coisa que deve ser reavaliada é o reconhecimento da condição baptismal de cada seguidor de Jesus, à qual todos somos chamados. Todos somos sacerdotes, profetas e reis, independentemente dos sacramentos» (p. 111); por isso «é preciso passar da estrutura piramidal de poder para outra imagem, com maior horizontalidade e fraternidade, na qual prevaleça a dignidade igualitária recebida através do Baptismo e a experiência viva da vida comunitária» (p. 111). Para tal, é necessário introduzir «alterações nas estruturas eclesiais, alterações que promovam a participação do povo de Deus a todos os níveis» (p. 112).

 

2) Sinodalidade

A panaceia para resolver o clericalismo é, obviamente, a sinodalidade, um tema abordado na secção 2.8 (p. 115). O sinal de esperança mais relevante é a própria Assembleia Eclesial, que se orienta para o objectivo de uma Igreja sinodal do século XXI, uma Igreja que vê «todas as pessoas com igual dignidade como filhos de Deus, sem clericalismo, sem castas ou classes superiores, e confiando que o Espírito fala através de todos os homens e mulheres» (p. 115); uma Igreja que, consequentemente, «escuta a voz de todo o Povo de Deus», ajudando-o a «abandonar as estruturas rígidas que encerram a Igreja» (p. 115). Esta saída é imperativa, porque «quanto menos democráticas e participativas são as estruturas das organizações, mais elas são propensas a abusos de todo o género» (p. 115); além disso, a «autogestão comunitária» é a realização do sonho de «uma Igreja de comunidade» (p. 115). Para «sair de uma Igreja monárquica», é preciso perguntar: «Esta estrutura eclesial permitirá o nascimento da sinodalidade?» (p. 115), pois há «necessidade de construir novas estruturas eclesiais, em que a democracia seja entendida como uma forma de organização, com limites ao exercício do poder, com responsabilidade no seu exercício e com espaços de decisão partilhados e dialogados» (p. 115). Os autores do documento lamentam que «não haja objectivos nem instrumentos que permitam tornar visível esta grande viragem “coperniciana” nas estruturas da Igreja» (p. 115), uma vez que o importante é «acolher a grande mudança na estrutura da Igreja e permitir a realização desta mudança desejada por todos» (p. 116), demolindo assim «as estruturas eclesiais anticristãs que geram clericalismo» (p. 116).

 

3) O feminismo ministerial

A luta de classes entre leigos e clérigos torna-se particularmente virulenta no tema 2.5, intitulado «Mulheres» (p. 95), onde se afirma que «aquilo que mais dói» (p. 95) na situação das mulheres na esfera eclesial é o facto de «algumas autoridades serem, em muitos casos, conservadoras, chauvinistas e clericalistas» (p. 95), uma vez que «ainda está presente em muitos espaços eclesiais uma teologia patriarcal, não libertadora, que não leva em conta o pensamento das mulheres e não se adaptou à nova realidade» (p. 99).

De acordo com a Síntese Narrativa, a posição de inferioridade das mulheres na Igreja decorre do facto de «a estrutura hierárquica ascendente da Igreja ser um nó cego; trata-se de uma estrutura herdada da Idade Média», pelo que «é necessário trabalhar para gerar uma estrutura mais comunitária e uma dinâmica diferente» (p. 99), desmontando «a Igreja machista e patriarcal» (p. 100); com efeito, «o formato medieval e patriarcal que moldou a Igreja de ontem» (p. 100) ainda persiste nas dioceses e «o clero recusa-se a ceder o poder e permitir que as mulheres possam participar na co-responsabilidade como iguais» (p. 100). Como se refere mais adiante, no tema 2.7, o clericalismo «exprime-se em estruturas concebidas por homens e para homens (com traços machistas), perdendo-se assim a riqueza do contributo das mulheres em muitos domínios» (p. 108).

Em consequência, «não existe uma reflexão séria sobre a possibilidade de ministérios ordenados para as mulheres, apesar de a Igreja ser povoada na sua maioria por mulheres» (p. 95); é necessário, pois, «reconhecer o trabalho e os serviços das mulheres na Igreja, instituindo ministérios, incluindo o sacerdócio e o diaconado, não segundo o modelo clerical actualmente em vigor, mas a partir de uma experiência sinodal» (p. 101). Isto traduz-se na proposta específica de «apelar a mudanças no direito canónico e na estrutura eclesial, para que as mulheres possam assumir ministérios eclesiais/reflectir seriamente e abrir-se à possibilidade de ministérios ordenados (diaconado, ministério presbiteral), ao serviço da Igreja dos pobres» (p. 97).

Referindo-se ao diaconado, a Síntese afirma que um dos principais aspectos que emergiram durante o fórum temático sobre este assunto foi que «para pensar as mulheres e o diaconado, temos de mudar os imaginários; é necessário desaprender paradigmas e desconstruir modelos obsoletos das relações entre homens e mulheres, [e] não o considerar uma ordenação sacerdotal. É preciso ultrapassar a Igreja hierárquica piramidal, “kyriarcal”17 e sacerdotal, com vista a uma Igreja de comunhão, inclusiva e ministerial. É essencial mudar as actuais estruturas de pensamento, para se poder avançar e voltar a incluir as mulheres» (p. 188).

Logicamente, os participantes neste fórum consideram «de SUMA IMPORTÂNCIA que os actuais ministérios e cargos (especialmente o sacerdócio e o diaconado) sejam partilhados independentemente do sexo, na certeza de que o Espírito Santo opera através do servo ou da serva, sem ter em conta a respectiva sexualidade» (p. 187); e reiteram: «Uma Igreja sinodal é aquela que ouve o Espírito e na qual os papéis e as funções são assumidos com base nos carismas, e não segundo o género» (p. 189).

Por isso, na fase de escuta da Assembleia Eclesial, as participantes anseiam pela «presença de movimentos feministas na vida da Igreja ou relacionados com ela» (p. 95) e pela sua «inclusão, real e igualitária, como próximas e protagonistas», garantindo «às mulheres voz e voto na Igreja, em lugares onde não os têm» (p. 97).

Um passo posterior seria permitir a pregação: «O facto de só os homens poderem proferir a homilia é uma apropriação do Espírito. Negar às mulheres a capacidade de responder à sua vocação é uma violência e uma afronta ao Espírito. A Igreja deseja ser uma voz moral no mundo; negar às mulheres a plena pertença à Igreja é permitir que os homens continuem a exercer violência contra as mulheres na sociedade» (p.189).

As teólogas podem dar um grande contributo, porque «as teologias elaboradas pelas mulheres, incluindo as teologias feministas em diálogo com o feminismo e a perspectiva de género, apresentam críticas à visão androcêntrica e oferecem perspectivas transformadoras, com vista a uma Igreja mais inclusiva, que alargue os espaços para as mulheres» (p. 101).

Uma seleção de «Vozes do Povo de Deus» apoia estas exigências; entre as pérolas apresentadas, lê-se o seguinte testemunho: «Incluir as mulheres, de uma vez por todas, na liturgia, na tomada de decisões e na gestão da teologia, ou seja, no governo da Igreja e das suas comunidades, com iguais direitos e deveres» (p. 98).

 

4) As mulheres abençoam liturgicamente cardeais e bispos

A participação das mulheres na liturgia teve uma realização concreta durante a Missa vespertina do quarto dia da Assembleia Eclesial, que coincidiu com o Dia Internacional das Nações Unidas para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. No final da celebração, o Cardeal Álvaro Ramazzini, guatemalteco, que celebrou a liturgia, leu um texto em que convidava as mulheres ali presentes a subirem ao altar para que nós, participantes, «possamos receber delas uma oração de bênção», exprimindo assim «a igualdade que existe entre homens e mulheres baptizados». Reconhecendo o carácter insólito do seu gesto, o cardeal acrescentou: «Normalmente, somos sempre nós, os homens, que abençoamos, não é? Se estiverem de acordo, vamos inverter essa realidade agora mesmo», como sinal do caminho e do compromisso por eliminar todo o tipo de violência contra as mulheres; e concluiu: «Pedimos a todas as mulheres da assembleia que nos abençoem, a nós, cardeais, bispos, sacerdotes e diáconos, pastores das nossas comunidades cristãs»18.

Dito isto, o cardeal e os concelebrantes desceram do altar, para onde as mulheres subiram, e, levantando os braços em estilo evangélico, deram a bênção, utilizando uma fórmula previamente preparada, que foi lida ao microfone por uma delas. Todos os presentes, incluindo os clérigos, inclinaram humildemente a cabeça durante a bênção (veja-se a fotografia). No final, um dos bispos concelebrantes pediu às mulheres que os acompanhassem na procissão de saída, reservando-lhes o lugar de honra entre o clero e os próprios concelebrantes.

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Notas:

  1. Veja-se Andrea Tornielli, «Grech: un percorso che aiuta le Chiese a coinvolgere tutti con stile sinodale», Vatican News, 15 de Março de 2025: https://www.vaticannews.va/it/vaticano/news/2025-03/cardinale-grech-intervista-sinodo-assemblea-ecclesiale-2028.html.
  2. Veja-se Gerald E. Murray, «Processes, Accompaniment, Implementation: Synodality Forever!», The Catholic Thing, 20 de Março de 2025: https://www.thecatholicthing.org/2025/03/20/processes-accompaniment-implementation-synodality-forever/.
  3. Veja-se Ricardo Barreto, S.J. e Mauricio López Oropeza, «The First Ecclesial Assembly of Latin America and the Caribbean: Experiences of a Synodal Process», La Civiltà Cattolica, 21 de Fevereiro de 2022: https://www.laciviltacattolica.com/the-first-ecclesial-assembly-of-latin-america-and-the-caribbean-experiences-of-a-synodal-process/.
  4. Toward a Synodal Church Going Forth Into the Periphery: Reflections and Pastoral Proposals Drawn From the First Ecclesial Assembly for Latin America and the Caribbean, trad. María Luisa Valencia Duarte, Bogotá: CELAM, 2022, p. 8: https://asambleaeclesial.lat/wp-content/uploads/2022/10/ingles.pdf.
  5. Ibid., p. 15.
  6. Document for Community Discernment: At the First Ecclesiastical Assembly of Latin America and the Caribbean, Mexico City: CELAM, 2021, n.º 1, p. 7 (ebook), consultado a 8 de Abril de 2025: https://synod.org.pl/wp-content/uploads/2022/10/ddc-angielski-amerykanski.pdf.
  7. Ibid., n.º 8, p. 11.
  8. A Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Medellín em 1968, foi um marco na história da Igreja latino-americana, pela ênfase conferida à «opção preferencial pelos pobres», em nome da qual os bispos adoptaram um discurso influenciado por categorias marxistas, promoveram uma leitura sócio-política do Evangelho e incentivaram uma eclesiologia centrada na luta de classes e na libertação material, enfraquecendo assim a dimensão sobrenatural da fé e favorecendo posições revolucionárias. Medellín abriu a porta à Teologia da Libertação, cujos efeitos nefastos incluíram a politização do clero e a migração de milhões de leigos católicos para seitas evangélicas de orientação conservadora.
  9. Document for Community Discernment, nn. 8 e 9, pp. 11 e 12.
  10. Ibid., n.º 9, p. 12.
  11. José Antonio Ureta e Julio Loredo, Processo Sinodale, un Vaso di Pandora: 100 Domande e Risposte, Associazione Tradizione Famiglia Proprietà, 2023: https://issuu.com/atfp/docs/processo_sinodale_un_vaso_di_pandora.
  12. Document for Community Discernment, nn. 5, 16 e 18, pp. 16 e 18.
  13. Ibid., nn. 30 e 32, p. 24.
  14. Barreto and López, «The First Ecclesial Assembly».
  15. Ibid.
  16. Comité de Escucha, Síntesis narrativa: La Escucha en la Primera Asamblea Eclesial para América Latina y el Caribe – CELAM – Voces del Pueblo de Dios, 21 de Setembro de 2021: https://diocesisdeirapuato.org/wp-content/uploads/2021/11/Sintesis-Narrativa-FINAL-1-1.pdf.
  17. «Kyriarchal» é um termo da terminologia feminista, que foi cunhado por Elisabeth Schüssler Fiorenza em 1992; o termo descreve a teoria dos sistemas interligados, interactivos e auto-reforçadores de dominação e subjugação desta autora, sistemas que incluem o sexismo, o racismo, o capacitismo, o idadismo (incluindo o adultismo), o anti-semitismo, a homofobia, o classismo, a injustiça económica, o colonialismo, o militarismo, o etnocentrismo, o especismo e outras formas de hierarquias dominantes nas quais a subordinação de uma pessoa ou de um grupo a outro é interiorizada e institucionalizada. Cf. Wikipedia contributors, «Kyriarchy», Wikipedia, The Free Encyclopedia, consultado a 8 de Abril de 2025: https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Kyriarchy&oldid=1277650420.
  18. «Un grupo de mujeres bendice a losobispos y sacerdotes en una misa», Infovaticana, 3 de Dezembro de 2021: https://infovaticana.com/2021/12/03/un-grupo-de-mujeres-bendice-a-los-obispos-y-sacerdotes-en-una-misa/.

 

Publicado em: Tradizione Famiglia Proprietà

 

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