Giuseppe Brienza
«Para onde está Giorgia Meloni a conduzir a Europa»: foi com este título que a revista americana Time dedicou o tema de capa do seu último número à primeiro-ministro italiana. Tendo como base uma entrevista realizada a 4 de Julho no Palácio Chigi, a reportagem, assinada por Massimo Calabresi – o chefe da redacção de Washington da histórica revista de informação política e económica –, reconstitui o percurso político da líder dos Fratelli d'Italia até aos últimos três anos, durante os quais Meloni governou o país, emergindo «como uma das figuras mais interessantes da Europa».
Segundo Calabresi, a seriedade e a competência de Giorgia Meloni foram confirmadas a nível internacional no seu último encontro com Donald Trump, que teve lugar na Casa Branca, encontro que a Primeiro-ministro italiana preparou com o habitual cuidado e com uma pilha de fichas contendo a posição do magnata americano sobre todo e qualquer assunto que pudesse ser abordado. Graças a esta preparação, Meloni deu mostras de confiança e serenidade em todos os momentos do encontro, merecendo por isso, no final, um elogio público do Presidente dos EUA.
Relativamente à ideia de patriotismo, o artigo explica que, segundo Meloni, ele consiste no impulso que nos leva a «defender o que somos, a nossa cultura, a nossa identidade, a nossa civilização», exigência que se tornou indispensável sobretudo numa fase histórica em que é necessário «defendermo-nos de uma globalização que não resultou».
A reportagem reconstitui várias etapas da vida de Giorgia Meloni, desde a sua juventude, marcada pelo facto de o pai ter abandonado a família, passando pelo início da sua carreira política, primeiro no MSI e depois na Alleanza Nazionale, até à sua chegada ao governo. A propósito da sua chegada ao Palácio Chigi, a Primeiro-ministro recorda que tal facto foi acolhido com cepticismo pelo então Presidente Joe Biden, mas «acho que, muito simplesmente, ele não sabia de que estava a falar», comenta.
A reportagem refere igualmente as críticas de que as suas políticas são alvo em Itália. «Acusaram-me de tudo e mais alguma coisa, desde a guerra na Ucrânia até à morte de pessoas no Mediterrâneo. Fazem-no, muito simplesmente, porque não têm argumentos», atalha a Primeiro-ministro.
No entanto, entre as críticas referidas pela Time, não constam as dos círculos pró-vida e católicos relativamente à aprovação, a 2 de Julho último, pela Comissão de Justiça e pela Comissão de Saúde do Senado, do texto de base do projecto-lei sobre a morte medicamente assistida, mais conhecido por lei do fim da vida. Este texto, que é apoiado pelos partidos da maioria, introduz uma excepção à punibilidade prevista no código penal para qualquer pessoa que ajude outra a morrer (o chamado suicídio assistido); de facto, o projecto-lei não prevê que uma pessoa que «facilite a execução» do suicídio seja punível no caso de este ocorrer em determinadas condições. São elas, em primeiro lugar, que a pessoa que quer suicidar-se seja maior de idade, capaz de compreender e de querer, e que a sua vontade de morrer tenha sido formada «de forma livre, autónoma e consciente»; e, por outro lado, que esteja «incluída no percurso dos cuidados paliativos», esteja a ser mantida viva por tratamentos que substituam as funções vitais, sofra de uma patologia irreversível e experimente um sofrimento físico e psicológico intolerável.
Embora a oposição de esquerda e os radicais da Associação Luca Coscioni tenham criticado o projecto-lei, considerando-o mais restritivo do que as decisões do Tribunal Constitucional, em particular as de 2019 e 2024, que levaram a maioria a legislar sobre a possibilidade do suicídio assistido em casos específicos, para aqueles que defendem a indisponibilidade do direito à vida – valor que intitula o artigo 1º do projecto-lei de 2 de Julho –, o novo projecto mais não faz que acrescentar três condições às quatro elaboradas pelo Tribunal Constitucional para permitir o suicídio assistido; o que não evita que, por meio de jurisprudência posterior, como aliás aconteceu no passado após a legalização do aborto e da inseminação artificial, o primeiro e o segundo «limites» sejam interpretados de forma extensiva, acabando portanto por ser ignorados. É verdade que os partidos da maioria impuseram pontos importantes ao texto base, como a exclusão de um papel directo do Serviço Nacional de Saúde nos procedimentos de suicídio assistido e a «passagem» crucial pelos cuidados paliativos; mas, ao fazê-lo, estão a confiar a implementação destas importantes garantias ao sistema estatal de cuidados de saúde, o qual, com as devidas excepções, tem demonstrado, especialmente nas últimas décadas, toda a sua ineficácia e ausência de fiabilidade.
De acordo com a última sondagem Ipsos [veja-se Nando Pagnoncelli, «Il sondaggio: FdI stabile in testa al 28%, Pd secondo (7 punti dietro). Risale il M5S: è sopra il 14%», Corriere della Sera, 26 de Julho de 2025], que registou, em Julho, uma ligeira descida tanto dos Fratelli d'Italia enquanto partido (agora com 28 % contra 28,2 % em Junho) como do governo no seu conjunto (que perde cerca de 3 pontos de avaliação positiva, passando dos 39 % que tinha em Junho para os actuais 36 %), estaremos perante uma primeira retaliação dos eleitores pró-vida e católicos, desiludidos com a aprovação do projecto-lei sobre o fim da vida (que será mais correctamente chamado projecto-lei sobre o suicídio assistido).
O índice de aprovação da Primeiro-ministro Meloni também desceu (de 45 no mês passado para os actuais 43), apesar de alguns elementos terem jogado a seu favor, desde a conferência para a reconstrução da Ucrânia organizada por Itália até ao já referido reconhecimento internacional da sua liderança na Europa.
É verdade que o objectivo inicial da maioria era levar o projecto-lei sobre o fim da vida ao Senado entre 15 e 17 de Julho, a fim de ser aprovado e seguidamente enviado à Câmara dos Deputados; no entanto, e conforme foi ultimamente confirmado por alguns membros das Comissões de Justiça e de Saúde do Senado, tal precipitação foi, felizmente, evitada e a discussão do texto de base será retomada em Setembro. Contribuiu para este resultado – sob o fundo do substancial silêncio mantido sobre o assunto pela Conferência Episcopal Italiana (CEI) – a posição contrária ao projecto-lei adoptada por um expoente autorizado da Igreja italiana, o Cardeal Angelo Bagnasco, antigo presidente da CEI e do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE); entrevistado pelo diário La Repubblica, o Cardeal reiterou, e bem, que «o Estado não deve ser um Estado ético» que pratica (ou deixa praticar), neste caso, o mal moral (ou seja, o suicídio assistido), mas deve «reflectir sobre a orientação que [a cultura ocidental] empreendeu, de um individualismo moral em que o que conta é aquilo que eu decido» [Iacopo Scaramuzzi (entrevista), «Bagnasco: “La Chiesa ha il dovere di parlare in difesa della vita”», in La Repubblica, 23 de Julho de 2025].
O adiamento da votação do projecto-lei sobre o fim da vida, que será retomada no reinício dos trabalhos parlamentares, deve ser considerado um acontecimento positivo. Isto porque, embora confirme uma ambiguidade de fundo sobre esta delicada questão por parte de muitos expoentes do centro-direita, o novo cenário poderá dificultar a sua aprovação, uma vez que Setembro será dedicado à lei de finanças e ao começo da campanha eleitoral para as Regiões, que irão a votos no Outono; o que poderá determinar, não tanto (ou não apenas) por convicção, mas por oportunidade político-eleitoral, circunstâncias mais significativas e favoráveis às expectativas e aos anseios do mundo pró-vida.
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